Por: Lorena Resende Oliveira
21/07/2020
Os benefícios do Azospirillum spp. vão além da fixação biológica de nitrogênio quando inoculado via sulco em soja. Este gênero faz parte das rizobactérias promotoras de crescimento vegetal (RPCV) capazes de estimular o crescimento e a ramificação do sistema radicular, melhorando sua eficiência morfológica por meio da produção de fitohormônios (Ribaudo et al., 2006; Molina-Favero et al., 2008). Sabe-se que respostas morfológicas das raízes a espécies de Azospirillum são desencadeadas por reguladores de crescimento de plantas, como auxinas (principalmente ácido indol-3-acético, AIA) e etileno, e moléculas de sinalização, como óxido nítrico, produzidas e secretadas pelas bactérias na rizosfera, ou seja, no volume de solo que circunda o rizoplano que foi afetado pela atividade da raiz (Cassán et al., 2014; Fukami et al., 2018).
Interessante notar, que algumas moléculas sintetizadas por A. brasilense, como o ácido salicílico e jasmonato, podem tornar as plantas mais tolerantes a estresses abióticos e bióticos, que resultam em danos oxidativos às plantas devido ao aumento das espécies reativas de oxigênio (ERO) como radicais superóxido (O2−), radicais hidroxila (OH−) e peróxido de hidrogênio (H2O2). Esse benefício também pode ser alcançado pela aplicação de metabólitos de A. brasilense, via sementes ou foliar, uma vez que os metabólitos possuem a capacidade de regular a expressão de genes vegetais relacionados à tolerância a estresses abiótico e biótico (Fukami et al. 2017). Como evidências científicas, temos por exemplo, os trabalhos de Molla e colaboradores (2001) e de El-Khawas e Adachi (1999) , que verificaram após a aplicação de exsudatos de A. brasilense em sementes de soja e em raízes de arroz respectivamente, o aumento no número de pêlos e raízes laterais, estimulando assim o crescimento da planta.
Além dos benefícios trazidos por essa espécie, sua eficiência mostrou-se ainda mais notável quando associada ao Bradyrhizobium spp. Em um estudo recente realizado por Hungria e colaboradores (2020), a co-inoculação ou aplicação de exsudatos de A. brasilense em plantas de soja já inoculadas com Bradyrhizobium spp. não alterou a massa seca da parte aérea (MSPA), concentração e teor total de nitrogênio em experimentos realizados em casa de vegetação, possivelmente porque as avaliações foram feitas no estágio inicial de crescimento, V5. Por outro lado, em condições de campo, quando avaliadas no estágio reprodutivo (R4), a co-inoculação resultou em aumentos notáveis no teor total de N da parte aérea, no peso seco e no rendimento de grãos, em comparação com a inoculação exclusiva com Bradyrhizobium spp.
Sendo assim, o uso de diferentes microrganismos com a co-inoculação de Azospirillum spp. pode ajudar a mitigar os impactos do estresse abiótico (salinidade e seca) como também o estresse biótico (patógenos). Consequentemente a co-inoculação com Azospirillum brasilense , proporciona uma agricultura mais sustentável e produtiva devido ao incremento no crescimento e vigorosidade das plantas.
Referências
CASSÁN, F. et al. Physiological and agronomical aspects of phytohormone production by model plant growth promoting rhizobacteria (PGPR) belonging to the genus Azospirillum. Journal of Plant Growth Regulation, v. 33, p. 440–459, 2014. DOI: https://doi.org/10.1007/s00344-013-9362-4
EL-KHAWAS, H.; ADACHI, M. K. Identification and quantification of auxins in culture media of Azospirillum and Klebsiella and their effect on rice roots. Biol Fertil Soils 28:377–381, 1999. DOI: https://doi.org/10.1007/s003740050507
FUKAMI, J. et al. Phytohormones and induction of plant-stress tolerance and defense genes by seed and foliar inoculation with Azospirillum brasilense cells and metabolites promote maize growth. AMB Express, v. 7, p. 153, 2017.
FUKAMI, J.; CEREZINI, P.; HUNGRIA, M. Azospirillum: benefits that go far beyond biological nitrogen fixation. AMB Express, v. 8, p. 73, 2018.
MOLLA, A. H.; SHAMSUDDIN, Z. H.; SAUD, H. M. Mechanism of root growth and promotion of nodulation in vegetable soybean by Azospirillum brasilense. Communications in Soil Science and Plant Analysis, v. 32, p. 2177– 2187, 2001. DOI: https://doi.org/10.1081/CSS-120000276
MOLINA-FAVERO, C. et al. Aerobic nitric oxide production by Azospirillum brasilense Sp245 and its influence on root architecture in tomato. Molecular Plant-Microbe Interactions, v. 21, p.1001 - 1009, 2008.
RIBAUDO, C. M. et al. Azospirillum sp. promotes root hair development in tomato plants through a mechanism that involves ethylene. Journal of Plant Growth Regulation, v. 25, p. 175–185, 2006.
RONDINA, A. B. L. et al. Changes in root morphological traits in soybean co-inoculated with Bradyrhizobium spp. and Azospirillum brasilense or treated with A. brasilense exudates. Biology and Fertility of Soils, v. 56, p. 537–549, 2020. DOI: https://doi.org/10.1007/s00374-020-01453-0
Como citar este artigo: Lorena Resende Oliveira. Os benefícios da co-inoculação de Azospirillum brasilense na cultura da soja. SoluBio Tecnologias Agrícolas LTDA. (https://www.solubio.agr.br/post/os-benef%C3%ADcios-da-co-inocula%C3%A7%C3%A3o-de-azospirillum-brasilense-na-cultura-da-soja). Publicado em 21 de julho (2020).
Lorena Resende Oliveira
Mestre em Produção Vegetal pela UFT e MBE em Engenharia de Produção e Serviços.
Escreve sobre Produtos Biológicos e seu uso na agricultura.